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Vazamento de documento estratégico dos EUA: Polônia, Áustria, Itália e Hungria querem deliberadamente a saída dos EUA da UE.

Vazamento de documento estratégico dos EUA: Polônia, Áustria, Itália e Hungria querem deliberadamente a saída dos EUA da UE.

Vazamento de documento estratégico dos EUA: Polônia, Áustria, Itália e Hungria querem deliberadamente a saída dos EUA da UE – Imagem criativa: Xpert.Digital

Os planos de Donald Trump para a unificação europeia: quando as ambições geopolíticas abalam os alicerces da ordem transatlântica.

Uma cisão está se alastrando pelo Ocidente: como uma nova doutrina de segurança dos EUA ameaça a existência da União Europeia.

Durante muito tempo, a parceria transatlântica foi considerada o alicerce inabalável da ordem mundial ocidental. Mas a apresentação de uma versão ampliada da Estratégia de Segurança Nacional dos EUA pela "Defense One" no final de novembro marca uma virada histórica. O que à primeira vista parece ser uma continuação da já conhecida retórica "América Primeiro", revela-se, após uma análise mais aprofundada, um plano de batalha meticulosamente elaborado para o enfraquecimento sistemático da União Europeia.

O documento não deixa margem para dúvidas: Washington já não vê a UE principalmente como um bloco aliado, mas cada vez mais como um concorrente económico e um obstáculo regulamentar. Está a ser utilizada uma estratégia de "dividir para governar" para remover seletivamente quatro Estados-Membros – Polónia, Áustria, Itália e Hungria – da esfera de influência de Bruxelas e colocá-los em dependências bilaterais com os EUA. O objetivo é quebrar o poder de negociação coletiva do mercado único e neutralizar o "Efeito Bruxelas" global.

Aliado às imensas exigências de um aumento nos gastos com defesa para até 5% do produto interno bruto e ao apoio ideológico declarado às forças nacional-conservadoras, a Europa enfrenta talvez seu maior desafio. A análise a seguir examina o contexto econômico, a dinamite ideológica e as consequências financeiras fatais de uma estratégia que força a Europa a escolher entre soberania e desintegração.

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Um ponto de virada na relação transatlântica: os EUA rebaixam a Europa de parceira a concorrente econômica.

A divulgação de uma versão ampliada da Estratégia de Segurança Nacional dos EUA provocou um choque na política de segurança, cujas consequências vão muito além de meras mudanças simbólicas. O que inicialmente parecia uma afronta retórica, após uma análise mais aprofundada, revela-se uma tentativa metódica de enfraquecer sistematicamente a União Europeia e dividi-la segundo linhas divisórias ideológicas. A versão mais extensa do documento estratégico, descoberta pelo Defense One no final de novembro, nomeia especificamente quatro Estados-membros que Washington pretende afastar de Bruxelas: Polônia, Áustria, Itália e Hungria. Essa ofensiva geopolítica marca um ponto de inflexão nas relações transatlânticas, ameaçando não apenas o projeto europeu, mas toda a arquitetura de segurança ocidental em seu âmago.

As implicações econômicas e estratégicas desse desenvolvimento não podem ser consideradas isoladamente. Elas se inserem em um padrão mais amplo da política externa americana que, sob a doutrina do "América Primeiro", está desmantelando sistematicamente o internacionalismo liberal da ordem do pós-guerra. Nessa nova visão de mundo, a Europa não é mais vista como uma parceira, mas como uma concorrente por recursos, mercados e influência geopolítica. A questão não é mais se os Estados Unidos irão redefinir seu papel como garantidor da segurança da Europa, mas sim quão radical será essa redefinição e quais custos ela acarretará para ambos os lados do Atlântico.

A anatomia econômica de uma cisão geoestratégica

A intenção, formulada na estratégia de segurança, de retirar sistematicamente quatro Estados europeus da órbita da UE segue uma lógica de política econômica calculada. A seleção dos países-alvo não é de forma alguma aleatória, mas reflete uma análise precisa das vulnerabilidades europeias. Polônia, Áustria, Itália e Hungria representam diferentes facetas da fragilidade europeia: dependência econômica de fontes de energia não europeias, polarização política interna, encargos fiscais e distanciamento ideológico da corrente principal de Bruxelas.

A dimensão econômica dessa estratégia se manifesta em vários níveis. Primeiro, Washington visa fortalecer as relações comerciais bilaterais que contornam ou ignoram o mercado comum europeu. Isso enfraqueceria substancialmente o poder de negociação da UE como bloco. A força econômica da União Europeia deriva não primordialmente da soma de suas economias nacionais, mas da integração e coesão de seus mercados internos. Um mercado único com mais de 450 milhões de consumidores permite que Bruxelas estabeleça padrões regulatórios com impacto global, desde a proteção de dados e segurança de produtos até as regras de concorrência. Esse poder é exercido por meio do chamado Efeito Bruxelas, em que empresas do mundo todo adotam padrões europeus para obter acesso ao lucrativo mercado da UE.

A estratégia americana ataca precisamente esse mecanismo. Ao tentar extrair Estados-membros individuais por meio de acordos bilaterais, Washington está fragmentando o mercado único e, assim, minando o poder de negociação coletiva. Essa não é uma ameaça teórica. A Lei dos Mercados Digitais e a Lei dos Serviços Digitais da UE, que obrigam as empresas de tecnologia americanas a mudar fundamentalmente seus modelos de negócios, só são possíveis para Bruxelas porque a União atua como um bloco fechado de 27 Estados. Caso países individuais rompam com o bloco e celebrem acordos separados com os EUA, a autoridade regulatória da Comissão seria corroída.

Em segundo lugar, a estratégia visa a indústria de defesa. Os EUA são, de longe, o principal exportador de armas para a Europa. Entre 2020 e 2024, aproximadamente 64% das importações de armas pelos países europeus da OTAN eram de fabricação americana. Essa dependência estrutural confere a Washington uma enorme influência. A exigência de que os países europeus gastem 3,5% do seu Produto Interno Bruto (PIB) anualmente em defesa nuclear e outros 1,5% em infraestrutura relevante para a segurança até 2035 representa uma enorme realocação de recursos públicos. Para a União Europeia como um todo, isso significaria um aumento nos gastos anuais com defesa, dos atuais cerca de US$ 360 bilhões para mais de US$ 600 bilhões.

Esses fundos precisam vir de algum lugar. Seja por meio de cortes em outras áreas, como gastos sociais, educação ou infraestrutura, o que é altamente controverso internamente, seja por meio de empréstimos adicionais, o que pressiona ainda mais as já rígidas regras fiscais da UE. Os países que Washington está visando especificamente já se encontram, em alguns casos, em situações orçamentárias precárias. A dívida nacional da Itália ultrapassa 140% do seu PIB, enquanto a da Áustria gira em torno de 80%. Programas massivos de rearme colocariam esses países em conflito com as regras fiscais de Bruxelas ou os forçariam a se tornarem mais dependentes dos modelos de financiamento e aquisição americanos, o que, por sua vez, enfraqueceria sua integração às iniciativas de defesa europeias.

A dimensão ideológica da estratégia de fragmentação

O apoio formulado na versão ampliada da estratégia de segurança a partidos, movimentos e figuras intelectuais patrióticas que defendem a soberania e a preservação ou restauração dos modos de vida tradicionais europeus constitui uma interferência sem precedentes nos assuntos internos de democracias soberanas. Washington declara explicitamente que está disposto a apoiar forças de direita, nacional-conservadoras e eurocéticas, desde que sejam pró-americanas.

Esta estratégia baseia-se numa avaliação precisa das democracias europeias. Nos quatro países-alvo, existem movimentos políticos desiludidos com a integração europeia ou que a rejeitam completamente. Em Itália, o Fratelli d'Italia, partido nacionalista de direita liderado por Giorgia Meloni, já está no poder. Embora critique retoricamente a UE, o partido continua dependente do acesso a financiamento da UE. Na Hungria, Viktor Orbán estabeleceu um sistema que os observadores descrevem como uma democracia iliberal e mantém laços estreitos tanto com Moscovo como com Washington. Na Polónia, tradicionalmente um dos Estados mais pró-americanos da UE, uma mudança de governo, afastando-se da administração pró-europeia de Tusk, poderá alterar a dinâmica. Por fim, a Áustria poderá ter um governo liderado pelo FPÖ após as próximas eleições, partido também eurocético e crítico da imigração.

As consequências para a política econômica da implementação bem-sucedida dessa estratégia seriam devastadoras. Uma UE na qual vários Estados-membros atuam ativamente contra as instituições de Bruxelas não só fica politicamente paralisada, como também perde sua coesão econômica. Iniciativas conjuntas como o Pacto Ecológico Europeu, a estratégia digital ou a agenda de política industrial seriam bloqueadas ou diluídas. A capacidade da União de atuar como um único ator econômico em relação aos EUA, à China ou a outras potências seria substancialmente enfraquecida.

Este não é um cenário hipotético. A União Europeia tem vivenciado repetidamente nos últimos anos como governos individuais podem bloquear iniciativas importantes. A regra da unanimidade em muitas áreas políticas, particularmente em política externa e de segurança, transforma efetivamente qualquer Estado-membro recalcitrante em poder de veto. A Hungria demonstrou isso repetidamente, por exemplo, ao bloquear pacotes de sanções contra a Rússia ou obstruir a ajuda da UE à Ucrânia. Caso vários Estados se unam em uma estratégia obstrucionista coordenada, a UE poderá ficar paralisada.

As reações das capitais europeias revelam fissuras fundamentais.

As reações à apresentação da estratégia americana refletem a fragmentação que Washington busca explorar. A indignação pública é generalizada em Berlim e Paris. O chanceler alemão, Friedrich Merz, descreveu partes da estratégia como inaceitáveis ​​de uma perspectiva europeia e defendeu maior autonomia estratégica. O ministro das Relações Exteriores francês falou de uma postura brutalmente clara adotada pelos EUA e alertou que a Europa só será respeitada se souber se defender.

Essa retórica, contudo, contrasta fortemente com a capacidade real de ação. Embora a Alemanha tenha dado passos históricos com o fundo especial de € 100 bilhões e a suspensão do freio da dívida para gastos com defesa, sua cultura estratégica permanece profundamente ambivalente. Pesquisas mostram que, embora a maioria apoie maiores gastos com defesa, cerca de dois terços dos alemães rejeitam o papel de liderança militar do país. Essa esquizofrenia estratégica — o desejo de gastar mais dinheiro, mas a relutância em assumir responsabilidade genuína — mina a credibilidade da política de segurança alemã.

A França, sob a liderança de Emmanuel Macron, adotou a autonomia estratégica como princípio orientador, mas está falhando em sua implementação. Embora a indústria de defesa francesa seja altamente desenvolvida, ela carece da profundidade industrial e da escalabilidade necessárias para uma independência europeia duradoura. Além disso, as culturas de política de segurança na Europa divergem fundamentalmente. Enquanto a França e a Grã-Bretanha, como potências nucleares, têm autoimagens diferentes, os Estados bálticos e a Polônia são existencialmente dependentes das garantias de segurança americanas e veem qualquer debate sobre a autonomia europeia como uma potencial traição à aliança transatlântica.

Os países-alvo da estratégia americana reagiram de forma previsivelmente diferente. Viktor Orbán saudou explicitamente a estratégia de segurança americana como o documento mais importante dos últimos anos e elogiou Washington por criticar a Europa no mesmo tom que Biden e Bruxelas haviam usado anteriormente para criticar a Hungria. O governo húngaro vê a doutrina Trump como uma confirmação de sua própria linha, que defende a reconciliação com a Rússia e retrata a UE como um aparato burocrático excessivo. O partido alemão AfD, cujos representantes estão viajando a Washington para conversar com o governo Trump, também saudou a estratégia como um alerta para a Europa.

Na Itália, Giorgia Meloni navega habilmente entre lados opostos. Ela se apresenta como uma ponte entre Washington e Bruxelas, mas, ao mesmo tempo, tenta posicionar Roma como uma parceira privilegiada dos EUA. Essa estratégia acarreta riscos consideráveis. Caso Meloni se aproxime demais de Washington, corre o risco de alienar seus parceiros europeus, particularmente a Alemanha e a França, cujo apoio é necessário para garantir flexibilidade em políticas internas e fiscais. Se cooperar demasiadamente com Bruxelas, corre o risco de perder credibilidade junto à sua própria base nacionalista de direita.

A Polônia, sob a liderança de Donald Tusk, reagiu com forte rejeição. Tusk publicou no X que a Europa era a aliada mais próxima dos Estados Unidos, não seu problema, e lembrou a todos que ambos os lados tinham inimigos em comum. Essa postura reflete o profundo desconforto em Varsóvia. A Polônia está geograficamente e estrategicamente exposta, fazendo fronteira com Belarus e o enclave russo de Kaliningrado, e vivenciou a agressão russa contra a Ucrânia como uma ameaça existencial. Qualquer enfraquecimento da OTAN ou a retirada dos EUA da Europa é percebido em Varsóvia como uma potencial sentença de morte para a segurança polonesa.

As consequências fiscais agravam as tensões existentes.

A exigência de aumentar os gastos com defesa para 3,5% do PIB para defesa nuclear, mais 1,5% para infraestrutura relevante para a segurança até 2035, representa enormes desafios orçamentários para os Estados europeus. Para a maioria dos Estados-membros da UE, isso significaria um aumento médio de 1,3 ponto percentual do PIB. Em termos absolutos, os membros europeus da OTAN teriam que aumentar seus gastos anuais com defesa em aproximadamente US$ 250 bilhões.

Esses valores não são insignificantes. A Alemanha, cujo gasto com defesa em 2024 era de cerca de 1,2% do PIB, teria que atingir 3,5%, o que, com um PIB de aproximadamente 4,5 trilhões de dólares, se traduz em cerca de 160 bilhões de dólares anualmente, em comparação com os atuais 55 bilhões. Mesmo com a suspensão do freio da dívida para gastos com defesa, permanece incerto como esses recursos podem ser mobilizados de forma sustentável sem cortes drásticos em outras áreas de gastos ou um aumento significativo da carga tributária.

A Comissão Europeia propôs isentar os gastos com defesa das regras fiscais, de forma semelhante ao que foi feito durante a pandemia de COVID-19. Isso permitiria que os Estados-membros financiassem os gastos por meio de empréstimos adicionais. No entanto, especialistas financeiros alertam que isso poderia levar a uma dinâmica perigosa. Países com níveis de endividamento já elevados, como Itália, França e Bélgica, poderiam comprometer a sustentabilidade de suas dívidas. Os mercados financeiros não diferenciam entre dívida para tanques e dívida para gastos sociais; eles apenas questionam se essa dívida pode ser paga.

Para a Alemanha, o aumento planejado nos gastos com defesa para 3,5% do PIB até 2030 significaria que a relação dívida/PIB subiria dos atuais 63% para mais de 70%. Isso restringiria significativamente a margem fiscal para outros investimentos, como proteção climática, digitalização e infraestrutura. Analistas estimam que a Alemanha teria que investir aproximadamente um ponto percentual adicional do PIB em cada uma dessas áreas nos próximos anos para atingir seus objetivos estratégicos. Isso é praticamente inviável do ponto de vista da política fiscal sem um aumento drástico de impostos ou cortes maciços em outras despesas.

As tensões fiscais estão exacerbando a fragmentação política. Países que já sofrem com as regras fiscais de Bruxelas podem ser tentados a recorrer a acordos bilaterais com Washington para obter ajuda militar ou financiamento favorável. No entanto, isso promoveria justamente a fragmentação que Washington busca.

 

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Autonomia estratégica ou parceiro minoritário? A última chance da Europa para a independência em política de segurança.

A indústria de defesa europeia como um gargalo estratégico

Outro elemento crucial da estratégia americana é o controle sobre a indústria de defesa europeia. A Europa não só importa a maior parte de seus sistemas de armas dos EUA, como também depende fortemente deles para tecnologias estratégicas essenciais, como comunicações via satélite, aeronaves de transporte e plataformas de armamento avançadas. Isso confere a Washington uma considerável vantagem.

Embora a indústria de defesa europeia não seja insignificante — cinco das vinte maiores empresas de armamento do mundo são europeias — ela é fragmentada e sofre com a falta de escala. Enquanto a indústria americana domina globalmente por meio de contratos maciços com o Pentágono e exportações, os fabricantes europeus competem entre si e enfrentam regulamentações nacionais de compras que dificultam a cooperação transfronteiriça.

A UE tentou contrariar essa tendência com iniciativas como o Fundo Europeu de Defesa e a Estratégia Industrial Europeia de Defesa. Esses programas visam garantir que, até 2030, pelo menos 50% das aquisições sejam provenientes da produção europeia e 40% sejam adquiridas em conjunto. No entanto, a realidade é diferente. Muitos Estados-Membros continuam a comprar preferencialmente de fabricantes americanos, em parte por hábito, em parte por razões tecnológicas e em parte por razões políticas para apaziguar Washington.

O aumento planejado nos gastos com defesa oferece, em teoria, uma oportunidade histórica para construir uma indústria bélica europeia capaz de defender o continente de forma independente. Na prática, porém, existe o risco de que as centenas de bilhões adicionais fluam, mais uma vez, principalmente para sistemas americanos. A Alemanha, por exemplo, planeja adquirir mais caças F-35 da Lockheed Martin, mísseis de cruzeiro Tomahawk da RTX e aeronaves de reconhecimento P-8 Poseidon. Essas compras fortalecem a indústria americana e aprofundam a dependência tecnológica.

Os fabricantes de armamento americanos reconheceram isso e estão expandindo estrategicamente sua presença na Europa, em parte por meio de joint ventures, em parte por meio de aquisições de empresas europeias e em parte por meio de acordos de coprodução. Essas estratégias permitem que eles lucrem com o rearme europeu sem alcançar uma verdadeira independência. Enquanto as forças armadas europeias dependerem de sistemas de armas americanos, elas também permanecerão politicamente dependentes de Washington, já que os EUA podem exercer pressão a qualquer momento por meio de controles de exportação e fornecimento de peças de reposição.

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A dimensão russa e chinesa da crise transatlântica

A estratégia de segurança americana trata a Rússia com notável leniência. Moscou não é definida como um adversário, mas sim como uma potência com a qual a estabilidade estratégica pode ser restaurada. Essa formulação contrasta fortemente com a percepção europeia. Para a UE, e especialmente para seus Estados-membros do Leste Europeu, a Rússia representa uma ameaça existencial imediata. A guerra na Ucrânia demonstrou que Moscou está preparada para usar a força para restabelecer sua esfera de influência.

A estratégia critica as autoridades europeias por suas expectativas irrealistas em relação à guerra na Ucrânia e as acusa de adotar uma postura de bloqueio que impede uma paz genuína. Essa interpretação coincide notavelmente com as narrativas russas. Moscou acolheu explicitamente a estratégia de segurança americana, afirmando que ela coincide com a perspectiva russa em muitos pontos.

Para a Europa, este é um cenário catastrófico. Caso Washington e Moscou comecem a negociar arquiteturas de segurança sem consultar os europeus, o continente se tornará moeda de troca. Essa preocupação não é infundada. A estratégia afirma explicitamente que os EUA estão preparados para negociar com a Rússia sobre estabilidade estratégica e para acabar com a percepção da OTAN como uma aliança em constante expansão. Isso significa, na prática, que países como a Ucrânia e a Geórgia não têm perspectiva de adesão à OTAN e devem permanecer na esfera de influência da Rússia.

As implicações econômicas são significativas. Uma reaproximação entre Washington e Moscou poderia levar ao levantamento ou ao alívio das sanções, o que colocaria as empresas europeias sujeitas aos regimes de sanções em desvantagem em relação às suas concorrentes americanas. Ao mesmo tempo, o controle russo sobre partes da Ucrânia ou a neutralização do país comprometeriam a segurança energética de longo prazo da Europa e restaurariam a Rússia como instrumento de pressão, que a Europa atualmente luta para neutralizar por meio da diversificação de suas importações de gás.

A China desempenha um papel central, porém peculiar, na estratégia americana. Pequim é vista principalmente como uma concorrente econômica, e menos como uma ameaça militar. Washington busca a dissociação em setores estratégicos, mas não um confronto em larga escala. Isso representa um dilema para a Europa. A UE é o parceiro comercial mais importante da China, e a China é um dos mercados de exportação mais importantes para bens industriais europeus, particularmente os da Alemanha. Uma política americana que force a Europa a escolher entre Washington e Pequim teria um impacto severo nas empresas europeias.

Os EUA já estão exercendo forte pressão sobre a Europa para excluir empresas de tecnologia chinesas, como a Huawei, de infraestruturas críticas e restringir investimentos em setores estratégicos. Ao mesmo tempo, Washington ameaça impor tarifas sobre as importações europeias que contenham muitos componentes chineses. Essa política de sanções secundárias está forçando as empresas europeias a reestruturarem suas cadeias de suprimentos, o que acarreta custos e ineficiências significativas.

A dimensão tecnológica da divisão transatlântica

Outro ponto de discórdia são as regulamentações europeias para os mercados digitais. A Lei dos Mercados Digitais e a Lei dos Serviços Digitais visam limitar o poder de mercado de gigantes da tecnologia americanas como Apple, Google, Meta e Amazon. A UE já impôs centenas de milhões de euros em multas a essas empresas, e outros processos estão em andamento.

Washington considera essas regulamentações medidas protecionistas que prejudicam deliberadamente as empresas americanas. O governo Trump ameaçou retaliar com tarifas. O Secretário de Estado Marco Rubio descreveu a sanção contra a X como um ataque a todas as plataformas tecnológicas americanas e ao povo americano por governos estrangeiros. Essa retórica sinaliza que os EUA estão preparados para intensificar os conflitos comerciais a fim de proteger suas empresas de tecnologia.

Para a Europa, um princípio fundamental está em jogo. A capacidade de definir as regras de mercado é um componente essencial da soberania europeia. Caso Bruxelas ceda à pressão americana e suspenda a aplicação de suas leis, isso prejudicará a credibilidade da UE e criará um precedente que se estende muito além do setor tecnológico.

Ao mesmo tempo, a Europa é economicamente e tecnologicamente dependente de plataformas e infraestruturas americanas. Empresas europeias fazem uso massivo de serviços em nuvem da Amazon, Microsoft e Google. A infraestrutura financeira está profundamente interligada com os sistemas americanos. A soberania digital completa para a Europa seria um projeto que levaria décadas e custaria trilhões. Enquanto isso, a Europa permanece vulnerável à pressão americana.

As opções comerciais da Europa em uma ordem mundial fragmentada

A Europa enfrenta a questão fundamental de como responder à estratégia americana. Três cenários são concebíveis, cada um com riscos e custos significativos.

O primeiro cenário é o da adaptação. A Europa aceita a nova doutrina americana, aumenta massivamente seus gastos com defesa, adquire principalmente sistemas de armas americanos e tenta evitar uma ruptura transatlântica por meio da política de apaziguamento. Isso significaria que a Europa reduziria suas ambições regulatórias, cederia ao conflito comercial e adotaria a linha americana em suas relações com a Rússia e a China. A vantagem seria a preservação da OTAN e das garantias de segurança americanas. A desvantagem seria uma dependência estratégica duradoura e o abandono dos interesses europeus independentes. Economicamente, isso significaria que a Europa seria relegada ao papel de parceira minoritária, implementando diretrizes americanas sem possuir qualquer poder independente para moldar políticas.

O segundo cenário é o de confronto. A Europa decide seguir consistentemente o caminho da autonomia estratégica, constrói uma capacidade de defesa independente, desenvolve uma indústria bélica europeia, estabelece sistemas financeiros alternativos e confronta abertamente Washington. Isso exigiria uma década de investimentos maciços, integração fiscal dentro da UE, unidade política e disposição para aceitar significativas perturbações econômicas. A vantagem seria a soberania genuína. A desvantagem seria uma potencial cisão na OTAN, o fim da garantia de segurança nuclear dos EUA e o risco de ser esmagada entre os blocos rivais dos EUA e da China.

O terceiro cenário é a fragmentação. A Europa se desintegra ao longo das linhas de fratura que Washington busca explorar. Estados individuais buscam salvação em acordos bilaterais com Washington, outros em uma integração europeia mais estreita e outros ainda em uma reaproximação com a Rússia ou a China. Isso significaria o fim da UE como ator geopolítico. Economicamente, o mercado único se deterioraria, tarifas e barreiras comerciais retornariam e as empresas europeias perderiam sua competitividade em relação às rivais americanas e chinesas. Este é o pior cenário possível, mas, dadas as profundas divisões dentro da Europa, não é de forma alguma implausível.

Os custos a longo prazo da dependência estratégica

A questão central para a Europa é se ela está preparada para pagar o preço da verdadeira soberania. A autonomia estratégica não é barata. Ela exige não apenas dinheiro, mas também vontade política, consenso social e disposição para assumir riscos. A arquitetura de segurança europeia existente era confortável. Ela podia contar com a dissuasão nuclear americana, evitar tomar decisões militares impopulares e se apresentar como uma potência civil moral, deixando o trabalho sujo da projeção de poder para outros.

Esta era acabou. A estratégia de segurança americana deixa inequivocamente claro que Washington não está mais disposto a desempenhar esse papel, pelo menos não sem concessões substanciais. Para a Europa, isso representa uma mudança de paradigma fundamental. A questão não é mais se a Europa precisa gastar mais em defesa, mas com que rapidez, quanto e com que propósito.

Análises econômicas demonstram que a Europa é fundamentalmente capaz de financiar sua própria defesa. O Produto Interno Bruto (PIB) combinado da UE é de aproximadamente US$ 17 trilhões, significativamente superior ao da China e comparável ao dos EUA. Sua população de 450 milhões de habitantes proporciona uma base demográfica suficiente. A capacidade tecnológica e industrial também está presente. O que falta é a vontade política para mobilizar e coordenar esses recursos.

Os maiores obstáculos são de natureza política e institucional. A UE não é um Estado federal, mas sim um sistema complexo e multinível em que a soberania é partilhada. A defesa é tradicionalmente uma competência nacional. Uma verdadeira união europeia de defesa exigiria transferências significativas de soberania, estruturas de comando comuns, forças armadas integradas e uma cultura estratégica comum. Isto é altamente controverso politicamente e encontra oposição de muitos Estados-Membros.

Ao mesmo tempo, as reações à estratégia americana demonstram uma crescente consciência da necessidade de mudança. Até mesmo políticos tradicionalmente voltados para a cooperação transatlântica, como Friedrich Merz, agora defendem a autonomia estratégica. A França, que vem fazendo essa reivindicação há anos, encontra cada vez mais receptividade. A questão é se essa mudança retórica poderá se traduzir em medidas políticas concretas antes que a aliança transatlântica seja irremediavelmente prejudicada.

A necessidade de um choque de realidade europeu

A apresentação da estratégia de segurança americana ampliada não é a causa da crise transatlântica, mas sim seu sintoma. As divergências estruturais entre os EUA e a Europa vêm se acumulando há anos. Os EUA tornaram-se cada vez mais competitivos com a China e mais voltados para si mesmos. A Europa falhou em investir em sua defesa em tempo hábil e em desenvolver uma visão estratégica coerente. A dependência da energia russa, a esperança ingênua de que o comércio traria mudanças e a negligência de sua própria indústria de defesa — todas essas foram decisões políticas que tornaram a Europa vulnerável.

A nova doutrina americana obriga a Europa a confrontar esta realidade. Os tempos em que se escondia atrás da retórica moral enquanto outros garantiam a segurança acabaram. A Europa tem de decidir que tipo de ator quer ser na política mundial: uma potência soberana capaz de defender os seus próprios interesses, ou um peão de potências rivais, presa entre as ambições americanas, russas e chinesas.

Os custos económicos desta decisão são consideráveis, mas os custos da inação são ainda maiores. Uma UE que não consiga garantir a sua segurança não será capaz de manter a sua prosperidade económica a longo prazo. Os investidores precisam de estabilidade, as empresas precisam de condições estruturais fiáveis ​​e os cidadãos precisam da garantia de que os seus governos são capazes de os proteger. Nada disto pode ser dado como certo num mundo onde a lei da selva substitui cada vez mais o Estado de direito.

Os próximos anos mostrarão se a Europa é capaz de enfrentar esse desafio. A alternativa não é um status quo confortável, mas sim o declínio gradual da importância de um continente que outrora foi o centro da política mundial e que agora corre o risco de se tornar uma nota de rodapé na história.

 

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