A Doutrina Monroe: De 1823 à Era Trump – Uma Análise Econômica da Política Hegemônica Americana
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Publicado em: 13 de dezembro de 2025 / Atualizado em: 13 de dezembro de 2025 – Autor: Konrad Wolfenstein

A Doutrina Monroe: De 1823 à Era Trump – Uma Análise Econômica da Política Hegemônica Americana – Imagem: Xpert.Digital
De 1823 a Trump: A Doutrina Monroe como modelo para a hegemonia americana?
Objetivo da hegemonia: exercer influência dominante sem governar formalmente – os outros estados permanecem formalmente independentes, mas orientam-se em direção ao hegemon.
Uma potência hegemônica governa por meio da influência, não pelo domínio direto.
Em 1823, o presidente dos EUA, James Monroe, proclamou uma doutrina que prometia oficialmente a proteção das jovens repúblicas latino-americanas contra as antigas monarquias europeias. Mas por trás da nobre retórica da "independência" e da fórmula "América para os americanos" residia, desde o início, um cálculo claro e pragmático: garantir sua própria dominância econômica.
O que outrora foi concebido como um baluarte defensivo contra a Santa Aliança na Europa transformou-se, ao longo de dois séculos, num instrumento ofensivo de projeção de poder geopolítico. Da expansão territorial do século XIX, passando pela "diplomacia do dólar" e pelas intervenções da CIA durante a Guerra Fria, até às políticas protecionistas do "América Primeiro" da era Trump, a Doutrina Monroe tem servido consistentemente ao mesmo propósito: legitimar o acesso a matérias-primas, o controlo de rotas comerciais estratégicas e a dominância política sobre o Hemisfério Ocidental.
Esta análise aprofundada examina os bastidores da diplomacia e desconstrói o mito dos Estados Unidos como "protetores". Revela como as restrições econômicas ditam a política externa de Washington, por que os EUA agora temem a concorrência chinesa na América Latina e por que os custos a longo prazo dessa hegemonia onerarão não apenas o Sul Global, mas também os próprios EUA. Descubra como um princípio de 200 anos ainda molda a ordem mundial atual — e por que ele pode estar fadado ao fracasso em um mundo multipolar.
Origens e desenvolvimento histórico: O nascimento de um princípio imperial
A Doutrina Monroe foi formulada em 2 de dezembro de 1823, quando o presidente dos EUA, James Monroe, proferiu seu discurso anual sobre o Estado da União ao Congresso. Nesse discurso histórico, ele delineou os princípios de uma política externa que moldaria a política continental americana pelos próximos dois séculos. Contudo, a doutrina não foi desenvolvida pelo próprio Monroe, mas sim concebida em grande parte por John Quincy Adams, então Secretário de Estado. Adams reconheceu desde cedo que os Estados Unidos precisavam de uma posição geopolítica que, ao mesmo tempo, mantivesse as potências europeias fora do Hemisfério Ocidental e legitimasse suas próprias políticas expansionistas.
O contexto histórico de seu surgimento era complexo. Após a vitória sobre Napoleão, as principais potências europeias formaram a Santa Aliança, uma coalizão das monarquias absolutistas vitoriosas liderada pela Áustria, Prússia e Rússia. Essa aliança visava suprimir os movimentos liberais e revolucionários na Europa e restaurar a ordem monárquica. Washington estava profundamente preocupado com a possibilidade de essas potências também intervirem na América Latina, onde as guerras de independência contra a Espanha haviam acabado de terminar com sucesso. Os recém-formados estados republicanos da América do Sul e Central eram vistos como alvos potenciais para a restauração da ordem monárquica por meio da intervenção europeia.
A doutrina em si foi resumida em vários princípios centrais. Primeiro, os Estados Unidos declararam que considerariam qualquer colonização adicional do continente americano por potências europeias como uma interferência indesejada. Segundo, os Estados Unidos prometeram não interferir nos assuntos internos da Europa nem atacar as colônias europeias existentes nas Américas. Terceiro, os Estados Unidos afirmaram que o Hemisfério Ocidental constituía uma esfera separada, livre da influência europeia. Embora a frase "América para os americanos" tenha sido cunhada posteriormente, ela capturou sucintamente a essência da doutrina.
Os motivos econômicos por trás desse posicionamento geopolítico eram múltiplos. Em primeiro lugar, os EUA buscavam novas oportunidades comerciais com os recém-independentes estados latino-americanos. O comércio com as antigas colônias espanholas havia sido relativamente pequeno antes da independência, representando menos de dois por cento do comércio total americano. Mesmo assim, empresários e políticos americanos esperavam que isso mudasse após a independência. Em segundo lugar, a expansão territorial e a garantia de acesso a matérias-primas desempenharam um papel crucial. Os EUA estavam se expandindo para o oeste e precisavam de fronteiras e esferas de influência bem definidas para competir com outras grandes potências, como a Rússia e a Grã-Bretanha. As regiões noroeste dos Estados Unidos eram consideradas uma importante fonte de peles, direitos de pesca e uma rota comercial para a Ásia.
A doutrina permaneceu amplamente ineficaz nas primeiras décadas após sua proclamação. Os Estados Unidos não possuíam o poder militar necessário para fazer valer suas reivindicações. Quando os britânicos invadiram as Ilhas Malvinas em 1833, os Estados Unidos estavam impotentes para intervir. Foi somente em 1845, sob a presidência de James Polk, que a doutrina passou a ser ativamente utilizada para promover os objetivos expansionistas dos EUA. Polk invocou a Doutrina Monroe para justificar a anexação do Texas e do Oregon e para contrabalançar as ambições britânicas percebidas na Califórnia, que na época ainda fazia parte do México. A subsequente Guerra Mexicano-Americana resultou em uma significativa expansão territorial dos EUA, incluindo territórios como Novo México, Califórnia, Utah, Nevada, Arizona e partes do Wyoming.
Motivações econômicas e restrições geopolíticas: a mão invisível por trás da doutrina
Os fundamentos econômicos da Doutrina Monroe eram mais complexos do que a retórica oficial sugeria. Embora a doutrina fosse apresentada como uma defesa dos princípios republicanos e da independência da América Latina da influência europeia, os interesses subjacentes eram em grande parte econômicos. Os Estados Unidos se viam como uma potência econômica emergente que precisava proteger e expandir sua esfera de influência para competir a longo prazo com as potências coloniais europeias estabelecidas.
Um aspecto fundamental foi a busca por novos mercados. A industrialização nos estados do norte estava progredindo rapidamente, e a economia americana precisava tanto de matérias-primas quanto de mercados para seus produtos. A América Latina parecia ideal para isso. A região oferecia recursos abundantes como cobre, prata, estanho, café, açúcar e, mais tarde, petróleo. No entanto, as empresas e os investidores americanos se viram competindo com os interesses britânicos, franceses e alemães, que já mantinham relações econômicas consolidadas. A Doutrina Monroe serviu como instrumento político para alterar essa competição em favor das empresas americanas.
As esferas de influência no oeste e sudoeste do continente norte-americano foram outro fator econômico determinante. Os Estados Unidos expandiram-se sistematicamente para o oeste, e o controle de portos estratégicos, rotas comerciais e fontes de matérias-primas era crucial. As negociações para o Tratado Transcontinental entre John Quincy Adams e o enviado espanhol Luis de Onís, em 1819, não apenas estabeleceram a fronteira entre os EUA e a América espanhola, mas também definiram implicitamente as esferas de influência. Os EUA, assim, garantiram o acesso ao Oceano Pacífico e lançaram as bases para seu papel posterior como potência do Pacífico.
O papel da Grã-Bretanha na criação da doutrina foi ambivalente. Em agosto de 1823, a Grã-Bretanha ofereceu aos Estados Unidos uma declaração conjunta para impedir que as potências europeias interferissem na América Latina. Os britânicos tinham seus próprios interesses econômicos na região e queriam proteger o acesso aos mercados latino-americanos. No entanto, John Quincy Adams rejeitou uma aliança anglo-americana e defendeu uma declaração unilateral americana. Essa decisão foi estrategicamente astuta, pois permitiu que os Estados Unidos reivindicassem a liderança no Hemisfério Ocidental sem depender dos britânicos.
Os interesses econômicos tornaram-se cada vez mais dominantes ao longo do século XIX. Os Estados Unidos transformaram-se de uma potência defensiva em uma potência expansionista. A formulação original da doutrina, que ainda visava repelir as intervenções europeias, foi gradualmente ampliada. Em 1848 e 1870, foi adicionado o princípio da não transferência, proibindo a transferência de territórios coloniais para outras potências. Essa expansão serviu para proteger os interesses econômicos americanos e impediu que as potências europeias vendessem ou transferissem suas colônias para outras nações europeias, o que teria enfraquecido a posição dos EUA.
As crises econômicas do final do século XIX contribuíram para a intensificação da doutrina. O Pânico de 1893 e a subsequente recessão econômica levaram à busca de soluções por meio da expansão. Os Estados Unidos buscavam novos mercados para seu excedente de produção e oportunidades de investimento para seu capital. A América Latina se apresentava como uma opção viável, mas as potências europeias já detinham fortes posições econômicas na região. A Doutrina Monroe passou então a ser usada para justificar uma política mais ativa e agressiva.
Aplicação prática nos séculos XIX e XX: da teoria à realidade militar
A aplicação prática da Doutrina Monroe evoluiu durante o século XIX, passando de uma posição puramente retórica para um instrumento ativo da política externa dos EUA. As primeiras décadas após 1823 foram caracterizadas por certa impotência por parte dos Estados Unidos. A marinha americana era fraca demais para fazer valer suas próprias reivindicações, e as potências europeias, em grande parte, ignoravam a doutrina. A ocupação britânica das Ilhas Malvinas em 1833 demonstrou vividamente que, sem força militar, a doutrina era apenas um tigre de papel.
Foi somente sob a presidência de James Polk, em 1845, que a Doutrina Monroe foi usada ativamente para fins expansionistas. Polk utilizou a Doutrina Monroe para justificar a anexação do Texas e do Oregon. Ele argumentou que os Estados Unidos tinham o direito de estender sua esfera de influência até suas fronteiras naturais e repelir a interferência europeia. A Guerra Mexicano-Americana, resultante dessa política, foi uma consequência direta dessa nova interpretação da doutrina. Os Estados Unidos não apenas conquistaram o Texas, mas também o Novo México, a Califórnia e outros territórios que mais tarde se tornariam os estados de Utah, Nevada, Arizona e partes do Wyoming.
A segunda metade do século XIX trouxe novas aplicações. Em 1895, os Estados Unidos usaram a doutrina para pressionar a Grã-Bretanha em uma disputa de fronteira entre a Venezuela e a Guiana Britânica. Invocando a Doutrina Monroe, o governo americano forçou Londres a negociar, afirmando que os EUA eram a potência hegemônica do continente e não tolerariam interferências em sua esfera de influência. Esse foi um ponto de virada, pois a Grã-Bretanha, como a maior potência mundial, cedeu e reconheceu a posição americana.
O desenvolvimento mais significativo ocorreu em 1904 com o Corolário Roosevelt. O presidente Theodore Roosevelt declarou que os Estados Unidos não ficariam de braços cruzados se os estados sul-americanos apresentassem desordem crônica e má administração. Para evitar dar às potências estrangeiras um pretexto para interferência, os Estados Unidos foram compelidos a assumir o papel de polícia internacional. Essa declaração transformou a Doutrina Monroe de uma doutrina defensiva em uma doutrina ofensiva. Os Estados Unidos agora reivindicavam o direito de intervir unilateralmente nos assuntos internos de seus vizinhos do sul.
As consequências práticas foram de longo alcance. Os Estados Unidos intervieram repetidamente no Caribe e na América Central. Tropas americanas foram estacionadas em Cuba, Nicarágua, Haiti e República Dominicana, onde instalaram governos fantoches e controlaram as políticas econômicas desses países. A República Dominicana foi colocada sob controle financeiro direto dos Estados Unidos em 1905, após a intervenção de diversos estados europeus com navios de guerra para cobrar dívidas. A Doutrina Monroe serviu de justificativa para essas intervenções, que frequentemente duravam décadas e restringiam severamente a soberania dos estados afetados.
A Primeira Guerra Mundial marcou outro ponto de virada na aplicação da Doutrina Monroe. O presidente Woodrow Wilson usou a doutrina para posicionar os Estados Unidos como líder moral no Hemisfério Ocidental. Os Quatorze Pontos, apresentados por Wilson em 1918, continham implicitamente a Doutrina Monroe como fundamento para uma nova ordem mundial. Os Estados Unidos deixaram de intervir apenas na América Latina e passaram a reivindicar um papel de liderança global. A doutrina tornou-se parte de uma visão mais ampla na qual os Estados Unidos atuavam como garantidores da democracia e do livre comércio.
O período entre guerras testemunhou uma aplicação crescente da doutrina no Caribe e na América Central. Os Estados Unidos intervieram na Nicarágua, no Haiti e na República Dominicana para prevenir a instabilidade política e a ameaça de interferência europeia. No entanto, essas intervenções serviram principalmente para proteger os interesses econômicos americanos, em particular os da United Fruit Company e de outras corporações americanas que controlavam vastas extensões de terra e infraestrutura na região. A doutrina tornou-se um pretexto para uma política frequentemente denominada diplomacia do dólar, na qual os interesses econômicos e o controle político caminhavam juntos.
A Segunda Guerra Mundial e a Guerra Fria transformaram a Doutrina Monroe mais uma vez. A União Soviética passou a ser vista como a maior ameaça ao Hemisfério Ocidental. A doutrina serviu de justificativa para uma arquitetura de segurança abrangente na América Latina. A fundação da Organização dos Estados Americanos (OEA) em 1948 foi uma tentativa de unir a região sob a liderança americana e impedir a influência comunista. Os EUA apoiaram regimes militares na América Latina, desde que fossem anticomunistas e protegessem os interesses americanos.
A Crise dos Mísseis de Cuba, em 1962, foi o ápice dessa política. Quando a União Soviética instalou mísseis nucleares em Cuba, os Estados Unidos invocaram a Doutrina Monroe para legitimar seu bloqueio e a ameaça de uso da força militar. O presidente John F. Kennedy argumentou que a instalação de mísseis nucleares soviéticos no Hemisfério Ocidental constituía uma ameaça inaceitável e que, como potência líder do continente, os Estados Unidos tinham o direito e o dever de impedi-la. A crise terminou com a retirada dos mísseis soviéticos, mas a doutrina agora estava firmemente enraizada na política de segurança anticomunista dos Estados Unidos.
As décadas de 1970 e 1980 trouxeram novas intervenções. No Chile, os EUA apoiaram o golpe militar de 1973 contra o presidente democraticamente eleito Salvador Allende, porque suas políticas socialistas eram consideradas uma ameaça aos interesses econômicos americanos. Na Nicarágua, os EUA lutaram contra o governo sandinista e, em El Salvador, apoiaram o governo contra os rebeldes de esquerda. Essa doutrina serviu de justificativa para essas intervenções, que frequentemente resultaram em violações massivas dos direitos humanos e minaram a democracia na região.
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Como a revitalização da política de Monroe por Trump está alterando a ordem mundial: protecionismo, China e América Latina sob pressão.
Interpretações modernas e a era Trump: um retorno ao protecionismo unilateral.
A interpretação moderna da Doutrina Monroe sob a presidência de Donald Trump marca um retorno a uma compreensão unilateral e protecionista da política externa americana. Trump reviveu explicitamente a doutrina e a utilizou como estrutura para suas políticas em relação à América Latina e ao mundo. Em diversos discursos, ele enfatizou que os EUA defenderiam seus interesses no Hemisfério Ocidental e não tolerariam interferências de outras potências, particularmente da China. Essa retórica não é mera referência histórica, mas parte de uma estratégia abrangente que está redefinindo o papel global dos EUA.
Os aspectos econômicos da moderna Doutrina Monroe são claros. Trump tem repetidamente apontado que a China ganhou muita influência na América Latina e que os EUA devem reverter essa situação. Os investimentos chineses em infraestrutura, mineração e agricultura na região são percebidos como uma ameaça aos interesses econômicos americanos. Os EUA acusam a China de tornar os países latino-americanos dependentes por meio da diplomacia da armadilha da dívida e práticas comerciais desleais. A doutrina serve como justificativa para restrições comerciais, tarifas e pressão política sobre governos latino-americanos que mantêm laços estreitos com a China.
Um elemento central de sua aplicação moderna é a política migratória. Trump vinculou a Doutrina Monroe à questão da imigração ilegal da América Latina. Ele argumentou que os EUA tinham o direito de compelir os governos da América Central a interromper a migração e que, se necessário, os EUA poderiam intervir militarmente ou impor sanções econômicas massivas. Essa política leva a uma nova forma de dependência, na qual os países latino-americanos são forçados a priorizar os interesses migratórios americanos em detrimento de suas próprias necessidades econômicas e sociais.
As relações com a Europa também mudaram. O governo Trump desvalorizou a aliança transatlântica e enfatizou que os EUA perseguiriam seus próprios interesses, independentemente dos aliados europeus. Essa postura é coerente com a Doutrina Monroe, que originalmente visava manter a Europa separada dos Estados Unidos. Trump acusou repetidamente a Europa de não contribuir o suficiente para sua própria defesa e questionou a OTAN. Essa política leva a uma redefinição do Hemisfério Ocidental, na qual a Europa é excluída e os EUA emergem como uma potência hegemônica isolada.
A política comercial da era Trump reflete a Doutrina Monroe. Os EUA têm privilegiado acordos comerciais bilaterais e se retirado de acordos multilaterais, como a Parceria Transpacífica (TPP). A doutrina serve como justificativa para medidas protecionistas destinadas a salvaguardar as indústrias americanas e garantir o acesso aos mercados latino-americanos. Os EUA negociam a partir de uma posição de força e ameaçam com consequências econômicas caso suas exigências não sejam atendidas.
Análise econômica e crítica sistêmica: os custos ocultos da hegemonia
Uma análise econômica da Doutrina Monroe demonstra que os custos de longo prazo da hegemonia americana na América Latina superam os benefícios de curto prazo. A doutrina levou a uma estrutura na qual as economias latino-americanas são dependentes dos EUA e incapazes de buscar um desenvolvimento industrial independente. Os EUA trataram a região como uma fonte de matérias-primas e um mercado para produtos americanos, mas o desenvolvimento das indústrias locais tem sido sistematicamente prejudicado.
A estrutura comercial revela desequilíbrios significativos. Os EUA exportam bens manufaturados de alto valor agregado, como máquinas, eletrônicos e serviços, para a região, enquanto importam matérias-primas e produtos agrícolas. Essa relação comercial é assimétrica e resulta em desequilíbrios persistentes na balança de pagamentos, favorecendo os EUA. Os países latino-americanos são forçados a atrelar suas moedas ao dólar ou a contrair dívidas denominadas em dólares, vinculando-os, assim, à política monetária americana.
Os fluxos de investimento também são unilaterais. As empresas americanas investem em indústrias extrativas, agricultura e serviços, mas menos no desenvolvimento de tecnologia ou infraestrutura locais. Os lucros retornam, em grande parte, aos EUA, enquanto os custos ambientais e as consequências sociais permanecem nos países anfitriões. Essa estrutura leva à periferização das economias latino-americanas, que não conseguem alcançar o nível das nações industrializadas desenvolvidas.
A crise da dívida da década de 1980 é um resultado direto dessa estrutura. Os países latino-americanos haviam contraído dívidas maciças denominadas em dólares para financiar seu desenvolvimento. Quando o Federal Reserve dos EUA aumentou drasticamente as taxas de juros em 1979, essa dívida tornou-se impagável. Os EUA aproveitaram a crise para abrir ainda mais a região e implementar programas de ajuste estrutural que deram às empresas americanas acesso a empresas estatais privatizáveis. A Doutrina Monroe serviu de justificativa para essa intervenção nas políticas econômicas dos Estados soberanos.
Os custos sociais são enormes. O apoio americano a regimes militares na América Latina custou milhares de vidas e atrasou o desenvolvimento democrático por décadas. As desigualdades econômicas exacerbadas pela hegemonia americana levam à pobreza generalizada, à migração e a tensões sociais. Os EUA lucram com mão de obra barata e matérias-primas, enquanto os povos da América Latina sofrem as consequências.
A aplicação moderna da doutrina sob Trump exacerba esses problemas. O foco na migração e nos déficits comerciais ignora as causas estruturais dos problemas econômicos na América Latina. As ameaças de sanções econômicas e intervenção militar criam incerteza e desestimulam o investimento de longo prazo. A demanda por isolacionismo leva à deterioração das condições comerciais da região e aumenta a dependência econômica.
Essa doutrina também prejudicou a própria economia americana. O foco no controle militar e político levou à negligência do desenvolvimento econômico na região. Em vez de criar parceiros comerciais estáveis e prósperos, os EUA fomentaram a instabilidade e a pobreza, resultando em migração e problemas de segurança. Os custos de longo prazo da segurança de fronteiras, das operações militares e da ajuda ao desenvolvimento superam em muito os ganhos de curto prazo com o acesso a matérias-primas.
O futuro da hegemonia em um mundo multipolar
A Doutrina Monroe moldou a política externa americana por dois séculos e continua a servir como justificativa para ações unilaterais e intervenções militares. Desde sua concepção, a doutrina tem sido um instrumento de controle econômico e geopolítico, operando sob o pretexto de defender a liberdade e a independência. O desenvolvimento histórico demonstra que os Estados Unidos invocaram a doutrina com maior veemência sempre que seus interesses econômicos pareceram ameaçados.
Os desafios modernos são complexos. O papel da China na América Latina representa uma nova forma de competição, de natureza econômica e menos militar. A China está investindo em infraestrutura e oferecendo empréstimos sem condições políticas. Essa estratégia tem se mostrado mais eficaz do que a combinação americana de pressão política e ameaças militares. Os EUA precisam reconhecer que a Doutrina Monroe, em sua forma histórica, não funciona mais. Os países latino-americanos são Estados soberanos que buscam parcerias múltiplas e não desejam mais estar sujeitos ao controle americano.
A lógica econômica da doutrina também está ultrapassada. Em um mundo globalizado, as relações comerciais bilaterais são menos importantes do que a cooperação e a integração regional. Os EUA se beneficiam mais de vizinhos estáveis e prósperos do que de estados satélites dependentes e instáveis. Uma nova estratégia deve se basear no benefício mútuo, no respeito à soberania e no desenvolvimento econômico genuíno. A retórica atual da era Trump, que se apoia em ameaças e isolacionismo, é contraproducente e, em última análise, prejudica os interesses americanos.
As relações transatlânticas são outro fator importante. A Doutrina Monroe original visava manter a Europa separada da América. A versão moderna ameaça dividir a Europa e os EUA, enfraquecendo ambos. Num mundo com potências emergentes como a China e a Rússia, uma aliança transatlântica forte é mais importante do que nunca. Um retorno a políticas unilaterais enfraquece a posição ocidental como um todo e leva a um mundo multipolar no qual os EUA deixam de ser a potência dominante.
O futuro da hegemonia americana depende de sua capacidade de adaptação. A Doutrina Monroe, como instrumento unilateral de controle, está obsoleta. Uma nova visão da liderança americana no Hemisfério Ocidental deve se basear em parcerias, integração econômica e valores compartilhados. Os desafios do século XXI, como as mudanças climáticas, a migração e as crises econômicas globais, exigem soluções cooperativas, não ameaças unilaterais.
O histórico da Doutrina Monroe é controverso. Embora tenha impulsionado os EUA ao status de superpotência continental e impedido que as potências coloniais europeias exercessem influência na América Latina, o custo para a região foi imenso. A doutrina levou a uma assimetria na qual os EUA colhem os benefícios do comércio e do investimento, enquanto a América Latina sofre com instabilidade, subdesenvolvimento e dependência. A versão moderna, sob Trump, ameaça exacerbar essas desigualdades, recorrendo a ameaças e coerção em vez de desenvolvimento e cooperação.
A lógica econômica da doutrina não se sustenta mais em um mundo globalizado. A longo prazo, os EUA se beneficiam mais de vizinhos prósperos e estáveis do que de estados satélites dependentes e empobrecidos. Uma nova estratégia teria que promover investimentos em infraestrutura, educação e tecnologia na América Latina, em vez de se concentrar apenas no acesso a matérias-primas. Teria que buscar acordos comerciais justos que fortaleçam ambos os lados, em vez de consolidar relações assimétricas. Teria que abordar a migração em sua raiz, criando oportunidades econômicas, em vez de fechar fronteiras e forçar governos a deter pessoas.
O cenário geopolítico mudou fundamentalmente. A China está presente na América Latina, não por meio de ameaças militares, mas sim por meio de investimentos e comércio. Os aliados europeus dos EUA estão insatisfeitos com o unilateralismo americano e buscam seus próprios caminhos. A Rússia explora as divisões no Ocidente para fortalecer sua posição. Neste mundo multipolar, a Doutrina Monroe, em sua forma histórica, não pode sobreviver. Os EUA precisam decidir se querem permanecer uma potência hegemônica isolada ou assumir um papel de liderança em um sistema cooperativo do Hemisfério Ocidental.
A aliança transatlântica é um pilar central da estabilidade ocidental. A Doutrina Monroe, originalmente concebida para separar a Europa da América, precisa agora ser revertida. Os EUA e a Europa compartilham interesses comuns na promoção da democracia, dos direitos humanos e do desenvolvimento econômico na América Latina. Uma estratégia conjunta que combine o poder de mercado americano com os valores europeus e a ajuda ao desenvolvimento seria mais eficaz do que ações unilaterais americanas. As políticas atuais do governo Trump, que enxergam a Europa como concorrente em vez de parceira, enfraquecem a posição ocidental como um todo.
O futuro da liderança americana no Hemisfério Ocidental depende da disposição de ir além da Doutrina Monroe. Uma nova doutrina teria que se basear no respeito mútuo, na soberania e em interesses compartilhados. Teria que reconhecer os erros do passado e desenvolver uma visão para um futuro comum. Os desafios do século XXI exigem não pretensões imperiais, mas diplomacia astuta, prudência econômica e uma parceria genuína. A Doutrina Monroe cumpriu seu propósito, mas seu tempo acabou. É hora de uma nova era nas relações entre Estados Unidos e América Latina, baseada na igualdade e na prosperidade compartilhada.
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