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A crise na indústria automotiva alemã: causas, efeitos e saídas para a miséria

Publicado em: 22 de novembro de 2024 / Atualização de: 22 de novembro de 2024 - Autor: Konrad Wolfenstein

A crise na indústria automotiva alemã: causas, efeitos e saídas para a miséria

A crise na indústria automotiva alemã: causas, efeitos e saídas para a miséria - Imagem: Xpert.Digital

Do motor da economia a um candidato instável: a indústria automotiva alemã sob pressão

A indústria automóvel alemã, outrora considerada a espinha dorsal da economia alemã e um símbolo de inovação tecnológica e qualidade, enfrenta um dos maiores desafios da sua história. A indústria enfrenta uma série de dificuldades estruturais, tecnológicas e geopolíticas que ameaçam seriamente a sua viabilidade futura. Este texto destaca as causas centrais da crise, os seus efeitos e possíveis soluções para manter esta indústria chave competitiva a longo prazo.

1. Transição perdida para a eletromobilidade

1.1. Repensar tarde e oportunidades perdidas

A indústria automotiva alemã há muito tempo se apega aos motores de combustão tradicionais. Embora empresas como a Tesla e vários fabricantes chineses tenham investido na eletromobilidade desde o início, marcas alemãs como Volkswagen, BMW e Mercedes-Benz reagiram com hesitação. A principal razão para isto foi o forte foco na exportação de modelos de motores de combustão bem-sucedidos, o que subestimou a necessidade de transformação. “Perdemos a transição para a eletromobilidade”, comentou recentemente um especialista do setor.

1.2. Fraca demanda por veículos elétricos

Embora a Alemanha esteja agora fortemente representada no segmento elétrico com modelos como o VW ID.3 ou o BMW iX, a procura permanece abaixo das expectativas. As razões para isto incluem a eliminação dos bónus de compra do governo, os elevados custos de aquisição e uma infra-estrutura de carregamento irregular. Ao mesmo tempo, fabricantes chineses como a BYD beneficiam de custos de produção mais baixos e de veículos tecnologicamente avançados que são particularmente competitivos na Europa.

2. Elevados custos de produção e declínio da competitividade

2.1. Localização cara na Alemanha

Os custos de produção na Alemanha são significativamente mais elevados do que noutros países devido aos elevados preços da energia e aos salários. Modelos básicos que geram margens baixas dificilmente podem ser produzidos de forma lucrativa nestas condições. Os fabricantes alemães estão, portanto, a concentrar-se no segmento premium, o que torna mais difícil o acesso a mercados de elevado crescimento.

2.2. Baixa utilização da capacidade das plantas

A utilização média da capacidade de muitas instalações de produção é de cerca de dois terços, o que afecta a eficiência das fábricas e aumenta os custos fixos por veículo. Esta situação agrava ainda mais o problema dos custos e torna as marcas alemãs menos competitivas.

3. Forte concorrência internacional

3.1. Dependência da China

A China é há muito tempo um mercado central em crescimento para os fabricantes de automóveis alemães. Marcas como Audi e BMW gozavam de grande popularidade entre a crescente classe média chinesa. Mas os fabricantes chineses recuperaram enormemente. BYD, Nio e Geely dominam cada vez mais o mercado interno e agora atacam também os mercados europeus. A quota de mercado dos fabricantes alemães na China caiu significativamente.

3.2. Resíduos tecnológicos

Outro ponto fraco da indústria automobilística alemã é o lento desenvolvimento das tecnologias digitais. Funções como sistemas de condução autónoma ou soluções inovadoras de infoentretenimento, que são padrão na Tesla ou na Nio, são frequentemente menos sofisticadas nos modelos alemães. O desenvolvimento de software, uma vantagem competitiva crucial no futuro, tem sido negligenciado há muito tempo pelas empresas alemãs.

4. Fatores económicos e geopolíticos

4.1. Situação económica fraca na Europa

A situação económica na Europa está a exercer uma pressão significativa sobre a indústria automóvel. A contenção do consumidor e uma economia fraca estão a fazer com que muitos consumidores adiem compras importantes, como a compra de um carro novo. Isto afecta particularmente os fabricantes alemães, cujos produtos são caros em comparação com os concorrentes asiáticos.

4.2. Riscos da política comercial

As relações comerciais internacionais envolvem riscos adicionais. Em particular, possíveis tarifas punitivas dos EUA sobre veículos alemães poderiam ter um sério impacto nas vendas num dos mais importantes mercados de exportação. As potenciais tarifas sobre os carros eléctricos chineses na Europa também poderão agravar a situação, uma vez que tais medidas poderão levar a contra-tarifas e a custos de produção mais elevados.

5. Problemas estruturais e erros de gestão

5.1. Estratégias pouco claras

Muitas empresas da indústria automóvel alemã operam com estratégias pouco claras e contraditórias. As constantes idas e vindas entre o foco nos motores de combustão e a eletromobilidade restringiu recursos e enfraqueceu a força inovadora.

5.2. Expectativas de retorno excessivas

Após fortes lucros durante a pandemia, muitas empresas mantiveram expectativas irrealistas quanto às suas margens. Esta pressão sobre os retornos levou a medidas de austeridade excessivas que comprometem os investimentos de longo prazo em investigação e desenvolvimento.

6. Impacto da crise

A crise tem consequências de longo alcance para toda a indústria:

Empregos em risco

Cerca de 130.000 empregos estão em jogo, uma vez que a produção automóvel caiu 23% desde o seu pico, enquanto o emprego caiu apenas 8%.

Fornecedores em crise

Os fornecedores também enfrentam a queda nos pedidos e o aumento dos custos. Muitos estão a planear cortes de empregos ou reestruturações para satisfazer os requisitos da eletromobilidade.

Perda de significado

Sem uma transformação fundamental, a indústria automóvel alemã corre o risco de perder importância a longo prazo no mercado global.

7. Dependência das exportações e desafios geopolíticos

A dependência de mercados de exportação como os EUA e a China agrava a situação. Com uma quota de cerca de 13%, os EUA são o mercado mais importante para as exportações de automóveis alemães, seguidos pelo Reino Unido e pela China. Uma reeleição de Donald Trump e potenciais tarifas punitivas poderiam reduzir significativamente os lucros da Volkswagen, BMW e Mercedes-Benz. Isto aumentaria ainda mais a pressão sobre a indústria e poderia exigir cortes profundos.

8. Saídas para a crise

Para superar os desafios e recuperar a competitividade, são necessárias medidas de grande alcance:

8.1. Foco na eletromobilidade

A eletromobilidade deve ser expandida de forma consistente. Isto inclui tanto o desenvolvimento de modelos básicos acessíveis como o desenvolvimento de uma infra-estrutura de carregamento abrangente. Colaborações com empresas de tecnologia poderiam ajudar a fortalecer as competências digitais.

8.2. Maior eficiência

Os processos de produção devem ser otimizados para reduzir custos. Isto pode ser conseguido através da automatização, da transferência de partes da produção para o estrangeiro ou do encerramento de fábricas ineficientes.

8.3. Diversificação de mercados

Os fabricantes de automóveis alemães devem reduzir a sua dependência de mercados de exportação individuais e abrir novas regiões de crescimento. Os mercados em África e na América do Sul oferecem um potencial que até agora permaneceu em grande parte inexplorado.

8.4. Promovendo a inovação

Os investimentos a longo prazo em investigação e desenvolvimento são essenciais. Os fabricantes alemães têm de recuperar o atraso, especialmente nas áreas de software, condução autónoma e soluções de mobilidade sustentável.

Foco na eletromobilidade, digitalização e aumento de eficiência

A crise na indústria automóvel alemã é uma interação complexa de tendências perdidas, problemas estruturais e riscos geopolíticos. Sem mudanças radicais, a indústria corre o risco de uma enorme perda de importância. No entanto, os desafios também oferecem oportunidades: Com um foco claro na eletromobilidade, na digitalização e no aumento da eficiência, os fabricantes alemães podem não só garantir a sua posição, mas também abrir novos mercados e assumir mais uma vez um papel de liderança como impulsionadores da inovação. Contudo, não há tempo a perder.

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